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Declaração de Repúdio: Rejeitamos o capítulo “Sadismo e Masoquismo”, de Dieter Duhm, publicado em 1972

Nós — a Comunidade Tamera — rejeitamos o capítulo “Sadismo e Masoquismo” do livro Angst im Kapitalismus (Medo no Capitalismo), da autoria de Dieter Duhm (1972), que ressurgiu num artigo recente da imprensa sobre Tamera. Esse capítulo foi escrito muitos anos antes da fundação da nossa comunidade e não representa aquilo em que acreditamos. O texto contém afirmações ofensivas e profundamente problemáticas sobre a psicologia das mulheres e a violência sexualizada. O próprio Dieter Duhm sente-se perturbado com o que escreveu na altura e pede desculpa pelas suas palavras.

Em nome da Comunidade Tamera, 24 de Junho de 2025

Naquela época, Dieter Duhm procurou explorar as origens do medo e da violência através de uma óptica psicanalítica. No entanto, ao patologizar as mulheres, desconsiderar as vítimas e omitir a responsabilidade dos agressores, consideramos este capítulo profundamente prejudicial. Trivializa a violência sexual e pode ser interpretado como uma tentativa de justificação da violação, ao generalizar afirmações cientificamente infundadas e ao não distinguir entre fantasia e violência real.

Reconhecemos os impactos deste texto — sobretudo na forma como contribui para tendências históricas de silenciamento, invalidação e retraumatização das vítimas de violência sexual.

A todas as pessoas afectadas por estas palavras, às sobreviventes de violência sexual e aos nossos amigos, dizemos: lamentamos profundamente não termos denunciado este capítulo muito antes.

Declaramos claramente:

  • A violação é uma forma extrema de violência.
  • A responsabilidade pela violação é sempre do agressor, nunca da vítima – independentemente das fantasias que esta pudesse ter tido, da roupa que vestia ou de onde se encontrava.
  • O consentimento é inegociável. Qualquer tentativa de confundir consentimento com coerção constitui uma distorção perigosa da dignidade e da autonomia humanas.
  • As pessoas sobreviventes merecem ser escutadas, respeitadas e cuidada. Rejeitamos teorias psicológicas ou espirituais que interpretem o seu trauma como resultado de desejos inconscientes reprimidos
  • Rejeitamos qualquer forma de justificação para a violação.

Reconhecemos também que o trabalho posterior de Dieter Duhm aborda a sexualidade com muito maior responsabilidade, e que ele dedicou a sua vida à construção de uma cultura não violenta. No entanto, este desenvolvimento não apaga os erros dos escritos anteriores — e assumimos a responsabilidade de os enfrentar.

Uma das nossas intenções fundadoras, enquanto comunidade, tem sido compreender as raízes da violência e criar formas de vida que rompam com os ciclos de trauma e sofrimento, entre vítima e agressor. Acreditamos que a cura da violência sexual exige novas estruturas sociais baseadas numa confiança profunda, onde as pessoas possam reconhecer e transformar os padrões traumáticos que perpetuam a violência.

Enfrentar este capítulo levou-nos a reflectir mais honestamente sobre as nossas próprias práticas. Reconhecemos que promovemos a liberdade sexual sem a devida consciência traumática nem educação suficiente sobre consentimento e limites. Isso causou sofrimento.
Estamos a escutar, a reflectir e a decidir os nossos próximos passos. O que sabemos é isto: estamos comprometidos com a responsabilidade, a aprendizagem e a reparação — e em tornar-nos uma comunidade que protege e valoriza a dignidade de todas as pessoas.

www.tamera.org