O QUE MANTÉM UMA COMUNIDADE UNIDA?

Após uma centena de anos de experiências comunitárias falhadas desde o Monte Verità em Ascona, na Itália (que também falhou), justifica-se a pergunta: O que mantém uma comunidade unida, o que a previne de falhar e como aumentar a sua força?

Em primeiro lugar, ela precisa de uma ideia forte, um conceito ou objectivo, que seja maior que um desejo pessoal de contacto e um sentimento de lar. Alguns exemplos seriam: desenvolver uma horta de paz, criar uma república das crianças, uma escola de transformação, um projecto de energia abrangente, um centro de arte, um centro de media e comunicação, etc. Quanto mais o seu conceito corresponder a uma necessidade objectiva, mais apoio terá do universo.

Em segundo lugar, precisa de bons métodos para lidar com o conflito humano. Precisa de um conceito mental-espiritual, que permaneça eficaz até quando as relações humanas ameacem comprometê-lo.

Em terceiro, precisa de algumas pessoas responsáveis, que tenham força para tomar posição pela ideia comunitária, mesmo quando muitas coisas corram mal. Precisa de uma perseverança invulgarmente forte.

Quarto, não precisa de chefes ou pensamento estratégico; mas sim da cooperação entre aqueles que assumiram a maioria das responsabilidades. Um pré-requisito para a criação de qualquer comunidade que tenha assumido uma tarefa maior, é ter um círculo permanente de pessoas responsáveis, sem competição secreta por poder ou posição.

Quinto, precisa de uma infra-estrutura clara. Cada membro deve saber o seu lugar e a sua tarefa. Tal como qualquer órgão do corpo, cada pessoa tem uma função especial dentro do todo. Assim que atingida determinada dimensão, é importante ter uma clara divisão do trabalho e uma atribuição clara de funções de liderança.

Sexto, precisa de uma estrutura de liderança que seja livre de dominação, composta por pessoas que sejam autoridades naturais, por terem as correspondentes capacidades humanas e profissionais e por terem conquistado a confiança do grupo. O carácter destas pessoas tem que ser de tal maneira maduro, que não utilizem a sua posição para benefício próprio ou para satisfazer uma sede de poder. Pessoas com a velha estrutura do poder não se adequam à função de líder, mesmo quando eles próprios querem assumir esse papel imediatamente. As comunidades do futuro não deverão ter uma base autoritária nem anti-autoritária.

Sétimo, precisa do profissionalismo dos seus membros. Para que o todo se desenvolva, é necessária uma direcção e uma vontade que não seja influenciada pelos sentimentos ou disposições momentâneas dos seus membros. Freaks e hippies, na sua generalidade, eram pessoas bastante simpáticas, mas não conseguiram criar comunidades funcionais.

Oitavo, para que se desenvolva confiança, todos os processos e decisões importantes têm que ser transparentes. Especialmente nas áreas do sexo, amor, autoridade e poder, dinheiro e economia, é necessário criar transparência, usando os métodos adequados (tais como a auto-expressão ou o Fórum) e uma comunicação clara. Caso contrário, a comunidade será rapidamente vítima dos seus conflitos secretos.

Nono, precisa de vitalidade sexual e vivacidade. Caso contrário, tornar-se-á rígida, ideológica ou aborrecida. No passado, as comunidades desintegraram-se ou por causa do Eros ou pela sua supressão. A comunidade e Eros eram dois conceitos opostos. Na realidade, um Eros livre e honesto pode desenvolver-se apenas com uma base comunitária. Para que isso aconteça, os obstáculos normais têm de ser ultrapassados de forma apropriada.

Décimo, precisa de um novo compromisso para com os valores humanos básicos do amor ao próximo, hospitalidade, confiança e apoio mútuo. Precisa da conexão com as questões actuais da humanidade e com a fonte universal da vida. Quanto mais validade e relevância geral para a humanidade ela tiver, mais força irá receber. Assim a tarefa cresce, a vontade torna-se mais forte e vislumbram-se novas possibilidades. Por trás de cada projecto – seja uma horta de paz, ou um centro de arte ou tecnologia – existe um conceito de vida, que se torna tanto mais abrangente quanto mais tempo nele investirmos.

Décimo primeiro, precisa de canções autênticas, festins e rituais. Para qualquer comunidade que se desenvolva e cresça de forma saudável, chega a altura em que realiza as suas próprias celebrações e encontra os seus rituais. É aqui que a gratidão e a celebração se transformam naturalmente numa forma de vida festiva. De súbito, a comunidade encontra as suas próprias canções, os seus ícones, mantras e signos que captam o seu poder e alegria de viver. A dada altura, todas as comunidades do futuro iniciarão cada dia com um tipo de celebração conjunta.

Este é um excerto editado do livro: ”The Sacred Matrix” [“A Matriz Sagrada”] por Dieter Duhm.

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